O tempo é relativo

Não é novidade para ninguém que como seres humanos somos todos capazes de refletir, entender as consequências dos nossos atos e evoluir, mas é muito mais fácil falar do que colocar em prática. Eu acredito que ainda há um longo caminho de aprendizagem a minha frente, mas cheguei em um momento da minha vida em que me sinto muito mais consciente pelas minhas ações, o que me traz uma satisfação muito maior quando eu tenho resultados positivos e uma frustração enorme quando nada sai como o planejado.

Aprendi que tempo é algo muito relativo, não que existe uma idade certa para nada. Eu sempre gostei de escrever, no entanto nunca pensei em levar a carreira de escritora a sério antes dos trinta. Para mim, eu precisava acumular uma certa experiência de vida antes de preencher o vazio de uma página em branco, na época eu queria escrever ficção e meus poemas eram muito pessoais. Hoje me arrependo de ter passado tantos anos insegura quanto a minha arte, se por um lado agora tenho mais convicções e, provavelmente, esteja mais preparada para a rejeição ou crítica alheia, por outro ainda estou a procura do ritmo ideal ao escrever, a falta de prática tornou longo o processo de escrita de um texto e gostaria de ter mais artigos por semana do que eu tenho para oferecer no momento.

  Assim como sempre acreditei que com o passar do tempo a gente espera que as pessoas se tornem mais maduras e que a experiência mostre que certas atitudes não são eficazes e, portanto, é preciso encontrar outros caminhos. Sempre tentei passar isso para os meus alunos e mais tarde para o meu filho, quando eu o via desnecessariamente irritado por uma situação, era preciso que ele entendesse a necessidade de aprender a lidar melhor com as suas emoções e que havia um limite, entre a birra de criança e sua natureza de testar os limites e quando passou a se tornar uma atitude narcisista de adolescente imaturo.

É fácil olhar a vida do outro e apontar erros e encontrar soluções para os problemas alheios, contudo consegui entender que estava na hora de parar de me enganar e enfrentar os meus próprios demônios, não que eu fosse dominar o mundo em um dia e transformar a minha vida na semana seguinte, mas precisava começar por algum lugar e uma das minhas maiores dificuldades sempre foi administrar o tempo.

Não, eu não sou e nunca fui dessas de me atrasar, sempre cumpri horários, entregava tudo no prazo, no máximo algumas horas mais tarde. Meus amigos, às vezes, tiravam sarro de mim por eu ser a primeira a chegar e já teve festa que cheguei antes do aniversariante, esqueci que as pessoas já esperam que os convidados se atrasem pelo menos uma hora. Meu problema é antes do prazo.

Ainda na faculdade uma das minha colegas de sala tinha uma agenda em que ela planejava o seu dia em detalhes, ela sabia cada passo do dia e eu não sabia se tinha admiração ou inveja, ela estava sempre com a matéria em dia, sabia quando e por quanto tempo iria ter que se dedicar para concluir uma determinada tarefa. Eu, por outro lado, terminava meus trabalhos na manhã que iria apresentá-los, não que os prazos eram curtos, mas sempre deixava para a última hora.

Eu amava dar aulas de redação, mas semanalmente tinha muitos textos para revisar, e era importante corrigir tudo antes da próxima semana, assim os alunos tinham a oportunidade de revisar e evitar os mesmos erros. A minha péssima administração do tempo era irritante, consequentemente eu ainda mantinha os prazos (com alguns atrasos), mas tomava mais café do que água, e passei a frequentar a farmácia para comprar pó de guaraná e qualquer coisa que ajudasse a me manter acordada. Talvez, o fato de trabalhar em três escolas e ter mais de cem alunos não ajudasse, o fato do André ainda ser pequeno e eu me sentir culpada por não dar a atenção suficiente e, por isso, mesmo com redação para corrigir eu, às vezes, deixava de lado para ficar com ele interferisse no resultado, entretanto ainda acredito que era possível ter mais horas de sono se soubesse lidar melhor com o tempo.

Ao mudar para a China eu senti algo que havia esquecido: TÉDIO. Finalmente tinha tempo para fazer minhas unhas toda semana, conseguia maratonar séries e ainda sobrava. Com uma carga horária reduzida e poucas distrações eu aprendi a lidar melhor com o tempo, já não precisava de café ou madrugadas mal dormidas, mas o trabalho era fácil e meu filho não estava aqui.

Anos se passaram e eu evoluí. Hoje consigo administrar melhor meu tempo, principalmente em relação ao trabalho, dificilmente trago trabalho para casa, descobri que é melhor passar algumas horas extras fora de casa focada nas tarefas que tenho do que esperar que tenha motivação para trabalhar em casa. Sei mensurar melhor o tempo que gasto para cozinhar e arrumar a casa, além de conseguir limitar o meu consumo de junk na internet e, é claro, meu filho é um adolescente que não precisa e nem pede a minha atenção à todo momento. Apesar de cansada tenho administrado bem minha rotina, mas ai quando tudo parece em ordem vem o FERIADO PROLONGADO.

Eu me lembro que desde quando meu pai começou a trabalhar viajando (eu tinha 9 anos na época) os feriados eram sempre recheados de muita expectativa. Era quase certeza de que ele viria para casa, que estaria por mais do que dois dias e que provavelmente nós faríamos algo especial. Naqueles dias era permitido sair da rotina, a gente normalmente acordava cedo para aproveitar ao máximo, as coisas da casa eram prioridade (limpeza, mercado, pequenos reparos), mas depois sobrava tempo para fazer algo divertido. Passear no centro, assistir algo na TV juntos, jogar buraco, almoçar fora, mesmo que meu pai estivesse sonhando com a comida da minha mãe. Eu me lembro de ser criança e contar os dias para o próximo feriado.

Talvez eu sempre quis que meus feriados também fossem preenchidos com coisas divertidas e em família para fazer depois que eu me tornei adulta, então todas as vezes que eu sentava na frente do computador e meu filho perguntava se eu queria jogar vídeo game eu prontamente pedia para ele ligar o segundo controle, se um amigo me chamava para tomar um café ou jantar eu aceitava. E assim mais um feriado acabava e havia sido muito pouco produtivo.

Como já expliquei em outro post, a China tem dois longos feriados e um deles foi agora do dia 1 de outubro até o dia 7 do mesmo mês. Sete dias de oportunidades, eu planejei finalmente terminar o conto que tenho o esboço há mais de um mês; escrever alguns artigos para quando voltar ao trabalho ter uma margem melhor de folga; mandar mensagem aos meus amigos, principalmente os que não moram mais aqui; recomeçar minha rotina de exercícios; organizar melhor a casa; terminar o livro que minha amiga me indicou depois que ela leu meu post sobre como eu não tenho planejamento financeiro; fazer algo divertido com meus amigos e com meu filho; ir ao mercado e cozinhar algo diferente. Parecia simples e o tempo mais que suficiente para tudo.

E eu devo confessar que Mortal Kombat X é muito divertido de jogar; que eu aprendi a fazer esfiha e que minha torta salgada não é de se jogar fora; o livro que minha amiga sugeriu é realmente muito bom e eu recomendo O homem mais rico da Babilônia – George S Clason, mas o resto vai ficar para depois quando eu lido melhor com o tempo e sei usá-lo de maneira mais eficaz.

Talvez eu não devesse ficar tão insatisfeita por não saber administrar bem meus feriados, afinal não me traz problemas no trabalho e eu consigo aproveitar para ter um pouco de descanso, mas eu não nego que ainda me frusta não conseguir conscientemente realizar tudo o que eu planejo.

Bom feriado à todos!

Published by Tassia Kespers

Escritora, professora, tradutora, revisora, mãe e exploradora nas horas vagas.

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