É fácil falar

Engraçado, eu sempre me considerei uma coletora de histórias. Sim, eu tenho as minhas próprias histórias, mas quando estou com os meus amigos não há nada que eu goste mais do que a oportunidade de saber um pouco mais sobre eles. Alguns são excelentes contadores de histórias, outros nem tanto, mas todo mundo tem algo interessante para contar.

Toda vez que alguém me conta uma história a minha atenção se volta completamente para aquela narrativa, eu quero ter a possibilidade de imaginar, de me colocar na situação e refletir se eu teria uma postura diferente ou não. E portanto, essas histórias ficam comigo, às vezes, eles recontam as histórias, porque estamos com um círculo diferente de amigos e eu consigo perceber se a narrativa é a mesma, se a história mudou ou se eu consigo acrescentar mais um detalhe para a história que eu já tenho catalogada em minha memória.

Eu costumava ouvir que algumas pessoas são muito cheias delas mesmas, e portanto, elas passam horas falando delas mesmas, sem nem mesmo perceber. Eu nunca me senti assim, pelo menos não até eu ter o André. Eu nunca achei que tinha histórias boas o suficiente que mereciam ser compartilhadas, e eu tinha medo de perder os poucos amigos que tinha se eu passasse a maior parte do tempo falando de mim mesma. Então, eu não o fazia.

O mesmo vale para discutir sobre assuntos polêmicos ou não. Eu já fui mais convicta das minhas respostas e em tentar convencer meus amigos, hoje eu me divirto em perceber os diferentes pontos de vista e em aceitar com mais facilidade estar errada em relação a qualquer coisa. Eu não usei o verbo divertir inadequadamente, eu acredito que discussões como essa podem ser benéficas mesmo que ninguém mude de opinião.

O tempo foi passando e eu comecei a me sentir capaz de compartilhar algumas das minhas histórias. Criar o blog sempre foi um desejo, mas o medo da exposição era constante. O que as pessoas que eu conheço vão falar ao lerem meus textos. E se eles não gostarem? E se ele acreditarem em que tudo que eu escrevo? Será que serei julgada pelas minhas palavras? E se eu não for uma pessoa criativa o suficiente?

Eu comecei esse texto há mais ou menos dois meses, meu ponto era mostrar que por mais idiotas que as pessoas fossem, aquelas que se arriscam a expor a sua opinião, ou parte da sua história, merece, no mínimo, o crédito por se sujeitar a todas críticas que vierem a seu caminho.

Mas eu duvidei que fosse um texto que valesse a pena ser publicado, que seria mais um junto a tantos outros no limbo do meu Google drive, onde eles jamais seriam publicados nem deletados. Estariam ali, como um permanente lembrete de que eu preciso fazer melhor.

Nesses dois meses, a ideia da importância de valorizar a coragem daqueles que falam continuou a me perturbar. Pessoas públicas sendo julgada por algo que disseram ou fizeram há muito tempo atrás, onde a sociedade era outra. A falta de interpretação ou a interpretação arbitrária com o único e exclusivo objetivo de causar polêmica e receber mais cliques. O cancelamento que é feito por pessoas sentadas no conforto das suas casas, provavelmente de pijama e sem a menor preocupação com as consequências ao próximo. 

Decidi que era importante tirar do limpo esse texto. Percebi que quanto mais eu me importo com o outro vai pensar de mim menos eu penso em mim mesma. Se eu devo amar ao próximo como a mim mesma, eu preciso começar com o A MIM MESMO e me permitir expor o que eu penso, assim como eu gostaria que meu próximo o fizesse.

Published by Tassia Kespers

Escritora, professora, tradutora, revisora, mãe e exploradora nas horas vagas.

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