Eu sempre amei ler, eu amava imaginar as cidades, os personagens e as suas aventuras. Eu era daquelas que quando o livro era muito bom eu não conseguia pensar em outra coisa. Antes de dormir “mais um capítulo” acabava se tornando 5 ou 6 e eu ia dormir 4:00 da manhã. No dia seguinte, eu acordava aguardado o momento em que eu teria tempo para ler mais. Eu nunca fui de ler livros de não ficção, eu tinha o momento de leitura como uma fuga da realidade, um espaço sagrado para esquecer de mim mesma e de tudo a minha volta.
Recentemente eu me vi mais interessada por livros de não ficção, talvez seja a maturidade e a vontade de entender melhor o que antes eu arbitrariamente ignorava, talvez seja meu filho que está crescendo e tem questionado cada vez mais sobre o comportamento que ele observa, ou talvez seja o mundo em que vivemos e o qual eu tenho dificuldades em assimilar e compreender.
Na tentativa de não enlouquecer completamente eu tento categorizar as minhas preocupações. Têm as questões pessoais e familiares que são prioridade imediatas para mim e às quais, na maioria das vezes, atitudes podem e devem ser tomadas. Depois vem a comunidade em que estou inserida (trabalho, amigos, país) problemas que eu consigo observar e em alguns aspectos tenho a oportunidade de interferir. E o ser humano em geral, padrões que se repetem ao redor do mundo, que são, talvez, os problemas que mais me preocupam e que eu tenho muito pouco controle à respeito.
Cuidando da minha sanidade mental
Eu costumo dizer que morar fora é uma montanha-russa, mas na verdade a vida em qualquer lugar é assim, com altos e baixos. Há momentos que eu tenho vergonha de reclamar pela vida e as oportunidades que tenho, em outros eu confronto cada escolha do passado e imagino o que poderia ter sido diferente.
Há algum tempo eu postei sobre a minha incompetência financeira e uma amiga me recomendou um livro, que ensina os princípios básicos de educação financeira através de histórias breves – O homem mais rico da Babilônia – George S. Clason. Não só eu tive uma resposta positiva sobre o blog (pessoas estão lendo 🙂 ), ao qual algumas vezes eu me questiono o porquê eu o tenho/mantenho, como eu comecei a dar os meus primeiros passos para uma vida financeira mais saudável.
No momento, eu estou lendo um livro do Augusto Cury sobre ansiedade (ele fala muito da síndrome do pensamento acelerado), que é uma das emoções que mais me corroem. Sempre foi um problema, mas desde que eu mudei para a China, e a distância prolongada da minha família e das minhas raízes, talvez tenham agravado um pouco. A lista de angústias é interminável e não são poucos os momentos em que eu preferiria nem sair da cama, mas eu me levanto. Eu estou aprendendo de que é possível ter uma perspectiva diferente, mudar hábitos, reinventar-se é dolorido, mas positivo se você realmente acreditar e se esforçar e eu o tenho feito.
Aceitando minha bolha
Eu acredito que nós vivemos em bolhas, você não pode dizer que conhece bem toda a sociedade se você não frequenta todos os setores dela. Hoje, a minha bolha é muito pequena, eu não tenho domínio da língua do país que eu moro, portanto minhas interações com pessoas locais são limitadas, as pessoas que convivo são de classe média e, portanto, dinheiro resolve muitos problemas. Entretanto, é inegável que estando em um outro país, outro continente, a cultura local é diferente em muitos aspectos, alguns são mais fáceis de entender do que outros. Hoje eu prefiro água natural ou morna, ao mesmo tempo que não consigo entender por que é tão difícil reconhecer quando não se sabe algo ou errou (lose-face).
Um dia, o livro Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes de Stephen R. Covey caiu nas minhas mãos, ou melhor foi compartilhado no grupo de livros que eu estou. Eu ainda não terminei de ler, porque no prefácio e no capítulo em que eu parei era preciso colocar em prática um determinado hábito antes de continuar. É um livro para ser lido aos poucos, para que as ideias sejam assimiladas e a observação somada a prática tornem a sua relação consigo mesmo e o mundo mais agradáveis. Esse livro tem mudado a forma como eu vejo o outro, mas principalmente eu tenho entendido um pouco mais que todos somos diferentes e estamos vivendo momentos distintos na nossa vida. Claro que ainda me incomoda determinadas atitudes e eu não consigo ser tão compreensiva, mas depois que as emoções se acalmam eu consigo refletir melhor sobre o que aconteceu.
De guerras a Kardashians
Da minha bolha eu tento me manter informada sobre o mundo, o que não é muito difícil quando se tem internet, mas tem um problema, não importa o site de notícias que eu abro, na maioria das vezes, a notícia principal é algo negativo e ao continuar rolando para baixo a decepção continua. Há pouca mudança, se não são fatalidades, são futilidades. Eu entendo que coisas ruins acontecem no mundo, mas muita coisas boas acontecem também. Por que damos tanta preferência para a violência? Onde foi que perdemos os norte e buscamos o sensacionalismo como a melhor forma de entretenimento?
Quando mais próximo do macro, mais complexo se torna para eu conseguir explicar o meu sentimento. Porque ao mesmo tempo que eu tenho a impressão de que a mídia, uma elite muito pequena de pessoas poderosas e o Estado se divertem fazendo o resto da sociedade se destruir sem perceber a influência deles, eu também acredito que uma pequena ação pode se tornar grande se a massa assim quiser, por isso que preciso avaliar as minhas atitudes e começar a mudança por mim mesma.
Esse ano eu finalmente consegui terminar 1984 – George Orwell, não que a história seja difícil de ler (talvez um pouco no começo), mas o paralelo que pode ser traçado com a nossa realidade é assustador. Como um livro escrito em 1949 conseguiu acertar tanto? Ou será que os políticos ao lerem o livro viram como fonte de inspiração para criar o sistema de governo perfeito para eles?
O fato é que ficção ou realidade é muito mais difícil para cidadãos normais como eu e você conseguirmos impactar a sociedade, por mais que eu invista em mim mesma e em melhorar a comunidade ao meu redor, ainda existe uma sociedade muito grande, que está completamente fora do meu real poder de influência. O que fazer? Como mudar algo que claramente está errado, mas até agora ninguém encontrou o caminho certo? Ou encontrou e não foi ouvido, ou foi silenciado? E aqui meu caro leitor é onde os pensamentos dessa pobre escritora começam a formar um tornado de emoções, questionamentos e poucas respostas.
Aproveitando que ontem foi o dia do livro e que no texto de hoje eu citei alguns livros, se alguém tiver sugestões de leitura para responder alguns dos meus questionamentos e acalmar essa pessoas ansiosa que vós escreve eu serei eternamente grata.