O dilema da mãe solteira começa durante a gestação. As perguntas sobre o futuro que ela não é capaz de responder a si própria, o acompanhamento médico e a compra do enxoval. Mas eu nunca tive esse dilema, o padrinho do meu filho estava comigo no primeiro ultrassom, a enfermeira me repreendeu quando eu ri dele por chorar ao ouvir o coração do André, “Ele tem direito de se emocionar” ela disse. Muitos dos meus amigos e familiares me apoiaram quando eu decidi que não iria me casar, eu me lembro da minha tia listando todos da família que engravidaram cedo e que eu não deveria me lamentar demais. Meus pais foram comigo comprar o enxoval e roupas para mim, nada em excesso, apenas o suficiente, fora os presentes que eu ganhei.
O dilema da mãe solteira incomoda duramente ao tentar voltar ou entrar no mercado de trabalho e não saber como responder quando o entrevistador pergunta quem vai cuidar do filho quando ele ficar doente. Eu assumi um cargo público 4 meses depois do nascimento do André, eu não tinha com quem deixá-lo e ele foi para a creche desde muito cedo. Quando eu mudei para Goiânia, eu não sei em quantas entrevistas eu ouvi a mesma pergunta, mas eu sempre tive minha mãe ao meu lado, que trabalhava home office e tinha uma flexibilidade maior para me ajudar em caso de emergência.
O dilema da mãe solteira é acabar esquecendo de si mesma, porque agora só consegue se enxergar como mãe. Não sobra tempo, ir ao salão de beleza por mais de 40 minutos parece um luxo muito distante, o orçamento para roupas acaba indo todo para o filho, não sobra tempo para encontrar os amigos e conversar sobre assuntos que não sejam relacionados a maternidade. Sobra muito amor ao filho, resta pouco para si mesma.
Okay, talvez aqui não seja apenas um dilema de mãe solteira, eu aposto que se você perguntar a última peça de roupa que uma mãe comprou, porque queria e não porque precisava, talvez ela não se lembre, mas a última coisa que ela comprou para o filho ela com certeza vai saber.
Eu morei com meus pais e meu filho por quase 10 anos, eu fazia o possível para não abusar do privilégio de morar com eles, mas, sem dúvida, eu podia ir a lugares com o coração em paz de que meu filho estava sob os melhores cuidados.
O dilema da mãe solteira é ter que deixar passar oportunidades, afinal com quem o filho vai ficar quando ela tiver uma viagem de negócios, uma reunião até mais tarde, um domingo extra de trabalho para poder mostrar ao chefe de que ela merece a promoção? Como professora meus horários sempre foram bagunçados, eu tinha aulas a noite, no sábado. Quando eu disse aos meus pais que eu tinha a oportunidade de ir trabalhar na China, eles me apoiaram e cuidaram do meu filho. Eu jamais poderia ter a vida que eu tenho hoje sem a ajuda deles.
O dilema da mãe solteira é não ter com quem dividir a responsabilidade. Ser mãe cansa, não basta amor é preciso energia e tem hora que acaba. A paciência acaba, as dúvidas começam e o choro continua. Minha mãe já passou madrugada acordada comigo quando o André teve cólica. Por mais que a gente discorde em muitas coisas, era importante saber que tinha alguém que se preocupava (e se preocupa ainda) tanto quanto eu com o crescimento do meu filho.
O dilema da mãe solteira é não ter a figura masculina na vida de um filho. Isso não tem nada a ver com uma bandeira, simplesmente pelo fato de proporcionar a oportunidade de ter bons exemplos. Ninguém ouve uma pessoa só na vida, ninguém cresce admirando uma única pessoa no mundo e se você é capaz de apresentar bons modelos para o seu filho, você é capaz de gerar uma influência positiva maior na vida dele. Mas o André sempre teve meu pai, meu irmão, meus amigos.
Certa vez, já morando na China, eu comentei com alguns amigos que o André estava com medo de dormir sozinho e do escuro. Algum tempo depois nós saímos para jantar, eu já tinha até esquecido que havia contado a eles, meu amigo começou a contar uma história pessoal de quando ele era mais novo, assim como o André e de que ele também tinha medo do escuro. Ao final ele foi bastante direto, aconselhando e sendo muito honesto quanto ao medo que ele sentiu na época e como ele lidou com aquilo.
Eu sou de uma geração em que pais separados e filhos criados só por mães ou avós era algo digno de pena. Portanto, quando eu decidi que não iria me casar e iria cuidar do André com a ajuda dos meus pais eu tive que atualizar as definições de família que eu tinha dentro de mim.
Minha mãe e eu nem sempre fomos próximas, mas ser mãe me fez perceber e valorizar a pessoa maravilhosa que me criou. O André é responsável por um processo de transformação enorme em minha vida e eu sei que eu sou uma pessoa muito melhor por causa dele. Não porque eu sou uma mãe solteira que enfrentou todos os obstáculos sozinha, mas porque estive sempre cercada da minha família e amigos que me apoiaram incondicionalmente e me aconselharam muitas vezes.
Sendo assim, a todos que me ajudaram nessa jornada de quinze anos e pelos muitos anos e desafios que ainda virão muito obrigada, aos tios e tias emprestadas que o André encontrou ao longo desses anos. Aos amigos que trataram e tratam o André com muito carinho e se preocupam com ele até hoje, perguntando como ele está. Aos familiares que ligam, mandam mensagem, perguntam dele. Essa mãe, que jamais seria a mãe que é sozinha, agradece de coração a todos que participaram dessa jornada!
Maravilha de relato de sua vida vitoriosa, Tassia!!! … e q ainda continuará e com mais vitórias…Parabéns a vc por tudo isso enfrentado com determinação e coragem. E ao André pelos seu aniversário… e q certamente terá em seus esforços e exemplos, uma visão clara para tb construir sua vida com essa mesma (ou mais..) bela trajetória. Abs dos tios.Jjodas e AnaEnviado do meu Galaxy
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Amém. Que ele também encontre seu caminho e possa ser feliz!!! Beijos a todos!!!!
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linda história
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