Para quem já conhece e acompanha um pouco da carreira de Trevor Noah, não é surpresa nenhuma a qualidade do seu livro “Trevor Noah – Nascido do crime” (Trevor Noah – Born a crime). O comediante e apresentador inclusive tem um contrato para a adaptação do best-seller para os cinemas.
Agora se você é daquelas pessoas que amava as aulas de história e geográfica e acredita de conhece um pouco da cultura e passado da África do Sul, o livro é leitura indispensável para entender tudo aquilo que os livros didáticos não explicaram.
O Apartheid foi muito além de segregar brancos e negros. Os polítcos conseguiram usar toda a experiência atrocidades realizadas em outros países e aplicarem de forma aprimorada na África do Sul. Na escola, a gente aprende que não havia convivência entre negros e brancos, Trevor Noah é um dos exemplos de que não existe lei que proiba as pessoas de se relacionarem se assim o desejarem.
Crescer sem poder chamar o pai em público. Ter que andar com a vizinha porque o tom da pele dela era mais próximo do dele e a mãe verdadeira andar alguns passos atrás como se fosse a empregada são apenas algumas das poucas experiências que uma criança parda tinha que enfrentar durante aquele período na África do Sul.
O interessante da narrativa do comediante é a percepção macro e micro dos acontecimentos. Sim, é o retrato pessoal da vida de uma família, mas é o reflexo de políticas que ditaram o país por muitos anos e que mesmo após o fim do Apartheid não mudou do dia da noite.
É a história de um menino que tinha a mãe e os livros como companhia a maior parte da sua infância. Quando o padrasto entra na história, nada parece fora do normal e é claro os problemas só vão surgir muito depois. As diferenças culturais aparecem, os problemas financeiros e de abuso surgem e os elementos de uma tragédia são tão claros que por alguns momentos é impossível acreditar que ninguém fez nada para evitar.
Trevor Noah faz uma autobiografia até o momento em que sua carreira como comediante começa a fazer sucesso, mas antes disso tem muitos insucessos, um retrato do subúrbio da África do Sul que os livros didáticos não trazem.
Parelelo a sua história ele narra a história da sua mãe, sua infância miserável e a oportunidade de aprender inglês que lhe proporcionou a chance de ter um emprego melhor. Das suas contravenções em ousar morar num bairro só para brancos e ter um filho mestiço até a violência domestica sofrida enquanto tinha o seu filho menor nos braços.