Crítica: “O que sobra” – Príncipe Harry

Eu nunca me interessei pelos programas de fofoca. Sônia Abrão, Leão Lobo, Nelson Rubens, apesar de eu saber seus nomes, não teriam emprego se dependenssem da minha audiência. 

Quando alguém compartilhou o livro “O que sobra”, uma auto-biografia escrita pelo Príncipe Harry, me despertou a curiosidade mais por estar diante de um lançamento do que o interesse em saber os bastidores da família real.

Eu acredito também que todos representamos papéis na sociedade e que é preciso entender que somos referência para outras pessoas. A partir do momento que você tem um destaque maior na sociedade há uma cobrança natural para que seja um exemplo positivo.  

Eu sempre acreditei que celebridades tinham que aprender a lidar com o fato de que as pessoas se interessam pela vida deles, é um dos ônus da profissão e ao decidir trilhar por esse caminho é preciso aceitar tal fato. Mas e quando nunca houve a chance de escolher ser famoso? 

Além de todos os conflitos que um núcleo familiar tem, qual seria a sua reação se você sempre fosse a segunda opção? Se todos falassem abertamente que o seu papel na família é o de substituto, caso necessário? Você precisa se adaptar a agenda apertada da sua avô, a rainha?

Cada passo dado fosse acompanhado por paparazzis desde os primeiros momentos da vida? As fotos tivessem um valor maior se o conteúdo delas fossem de você tendo um comportamento negativo?

O que eu mais gostei no livro do “príncipe” Harry, talvez por nunca ter dado muita atenção para a realeza e toda a burocracia que ela traz, é o fato dele ser era um empregado da família, uma pessoa que tinha seu salário controlado pelo pai e sem a oportunidade de trocar de emprego facilmente, independente das suas qualificações, um substituto que nunca teria um papel principal, uma válvula de escape para os demais membros da família quando a impressa estivesse sendo cruel demais com eles. 

Em seu livro de memórias, quem comprou para entender as razões pelas quais ele deixou a família real, encontrou muito mais do que pediu. Ele revela algumas das notícias negadas pelo palácio real como sendo reais, apresenta uma perspectiva diferente para outros tantos eventos cobertos pela imprensa. Como disse, eu não sou uma pessoa que gosta de saber do mundo das celebridades, muito menos da família real, muitas das noticias que ele citou eu nunca havia ouvido falar. 

Todos já fizemos algo que nos arrependemos, testamos limites, mas não haviam reporteres sedentos por registrarem os nosso momentos. Harry tinha. No entanto, chama muito a atenção ler pela primeira vez a perspectiva de alguém que foi acompanhado a vida toda por jornalistas, teve a sua vida revirada ao avesso e nunca havia pedido para ser famoso. 

Quando ele encontra a esposa, é possível perceber porque ele se vê tão atraido por ela. A vida caótica, a independência que ele nunca teve. Além disso, não é que ele não tenha se apaixonado antes ou quisesse ter um relacionamento normal, mas poucas serão as pessoas dispostas a terem a sua vida e das pessoas próximas invadidas e expostas publicamente.

Eu não li o livro porque queria saber dos bastidores da família real, eu me interesso por auto-biografias porque é possível você descobrir como Harry se define e o que ele considera essencial e váido de ser contado em suas memórias.

Published by Tassia Kespers

Escritora, professora, tradutora, revisora, mãe e exploradora nas horas vagas.

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