Ame odiar um livro

Eu amo ler, mas diferente de muitos leitores eu gosto das emoções que os livros me provocam. A intensidade da narrativa, a antecipação pelo momento de continuar a leitura, quando o livro toma parte do tempo do meu dia para tentar imaginar o que vai acontecer no livro, a minha identificação ou não com um personagem, quanto mais eu odeio um personagem mais eu aprecio o autor. Esses são alguns dos critérios que eu sigo para definir se um livro é bom ou não.

Eversion de Alastair Reynolds é só mais um livro de uma lista enorme de livros que nunca fez parte de uma lista de desejos. Eu apenas me deixei levar pela ideia de ler um lançamento, uma ficção-científica e pela capa (lógico).

A história inicia-se focando na experiência vivida por médico que aceita trabalhar como o médico em uma expedição misteriosa com uma tripulação limitada, fundada por um milionário metido a explorador. 

O livro é narrada em primeira pessoa, temos portanto a visão do médico e como toda brasileira e convive com a polêmica Capitu traiu Bentinho ou o cara era apenas um paranóico. Toda vez que o livro é narrado pela perspectiva do personagem, toda opinião é constestável, todo fato pode ser apenas uma percepção e não a realidade. 

Quando não para a minha surpresa, nem 20% do livro lido o personagem principal morre – Alguma coisa de errrada não estva certa – Lógico, era só um sonho, ele ainda está em um barco, a expedição está há algumas léguas de passar pelo mesmo trecho onde o acidente que ocasiona sua morte no sonho acontece, mas a travessia é tranquila. 

Depois da terceira morte eu cofesso que comecei a ficar um pouco frustrada, a partir dalí ele não apenas acordava no barco, mas a expedição também ia se alterando. A única constante era a personagem feminina da narrativa.

Seria preciso dar mais detalhes do livro para que se entenda a complexidade que a história entra a partir do momento que o barco se transforma em uma viagem espacial e que o personagem principal é na verdade uma Inteligência Artificial que se recusa a aceitar que não é um ser humano. 

Eu queria me decepcionar, eu queria odiar o livro por ter sido enganada ao acreditar que a história estava sendo narrada pela perspectiva de um personagem humano, mas quanto mais eu lia mais eu queria saber o final, afinal a máquina seria capaz de aceitar e modificar a afirmação que ela havia criado e se recusava corrigir.

A perspectiva de um novo segmento na literatura com personagens que são interfaces com uma complexidade humana era aterrorizador e fascinante ao mesmo tempo. Eu odiei o livro quase que do começo ao fim, principalmente por ter gostado tanto de ser tantas vezes enganada pela linearidade da história e a reflexão que a ficção me trouxe sobre o futuro das máquinas na nossa realidade.

Published by Tassia Kespers

Escritora, professora, tradutora, revisora, mãe e exploradora nas horas vagas.

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