Parte 2 – Hong Kong em boa companhia

Ao contrário das 36 horas da primeira vez que eu fui a Hong Kong, 5 anos depois eu tive a oportunidade de passar 5 dias e com a melhor companhia que eu podia pedir, meu filho. O caminho foi semelhante, avião até Shenzhen, dessa vez a gente pegou um ônibus que ia do aeroporto. O mesmo parava na mesma travessia terrestre, dessa vez mais vazia, sem ninguém para seguir eu me perdi, mas meu chinês estava muito melhor do que no passado. Atravessar a fronteira, pegar o ônibus do outro lado e descer no centro de Hong Kong. 

Nós chegamos no início da tarde, andamos até o hotel, dessa vez a demora se deu porque o hotel era em um conjunto de 4 prédios todos interligados e com o acesso aos elevadores em uma super movimentada área, era um lugar de aspecto de mercado municipal da maioria das cidades no Brasil, mas ao invés de frutas e verduras as lojas eram de câmbio e venda de chip.

Nos hospedamos em um quarto do tamanho de uma caixa de sapatos, era bem pequeno mesmo, mal tinha espaço para nós no quarto. Para quem não sabe Hong Kong tem um dos metros quadrados mais caros do mundo. 

Eu não fui a Hong Kong apenas por lazer, eu precisava resolver uma questão burocrática, o documento demoraria dois dias para ficar pronto, portanto ficaríamos três noites. Depois de tudo organizado com o despachante era preciso esperar, ou melhor, aproveitar a cidade.

Estátua do Bruce Lee, adolescente tentando imitar a pose da estátua, noite
estátua do Bruce Lee

Fomos andar pela orla, estávamos em uma área um pouco afastada da parte mais turística, sem querer nos deparamos com a estátua do Bruce Lee, que foi retirada da calçada da fama (igual a calçada da fama dos Estados Unidos, mas com atores chineses). Era uma pequena praça e com poucas pessoas por ali, já havia anoitecido, para minha surpresa não havia tantos turistas e conseguimos boas fotos.

Voltamos para o hotel cedo, eu procuro ir ao maior número de lugares possível quando eu viajo, mas estar acompanhada de um menino de 11 anos é preciso entender que não dá para fazer tudo do seu jeito. Acreditem ou não, ter um pré-adolescente emburrado ao seu lado, reclamando a cada passo muda a sua experiência completamente. Eu acredito que para a sua idade André é um excelente acompanhante, mas, às vezes, o adolescente fala mais alto e é melhor ceder do que ter uma experiência desagradável. 

Era hora de voltar para o hotel, eu acho que ainda estávamos nos adaptando ao clima (muito mais quente do que Guiyang) e toda a informação ao nosso redor. Compramos algo na loja de conveniência e levamos para o quarto, no caso da fome resolver aparecer durante a noite. O plano para o dia seguinte era acordar e explorar a cidade, como tínhamos três dias, o ideia é que o dia seguinte era o meu dia de escolher onde nós iríamos.
Acordamos cedo, café na manhã, caminhamos até onde poderíamos pegar a balsa para atravessar para o outro lado da cidade. É possível ir de metrô também, mas estava na minha lista de coisas para fazer em Hong Kong. O ser humano, às vezes, é facilmente impressionável, eu não sabia bem o que esperar, eu sabia que não era um daqueles barcos turísticos e pelo preço eu comecei a duvidar se havia feita a escolha certa. Talvez porque eu esperava o pior eu me surpreendi em quão confortável e rápido foi o translado, gostamos tanto que, na maioria das vezes, nem pensávamos em pegar o metrô quando tínhamos que atravessar para aquele lado da cidade. 

na embarcação atravessando a cidade
A cara de quem não dormiu nada
vista de Hong Kong
vista do prédio comercial

Fomos para o lado mais empresarial (tipo Avenida Paulista, mas era um bairro). Eu tinha visto no YouTube (sim, eu me rendi à facilidade de pesquisar sobre certos assuntos no YouTube) que tinha um prédio que era possível subir e observar a vista da cidade e era gratuito. Duvidei que estávamos no lugar certo, o prédio parecia comercial e não vimos nenhum turista por ali. Decidimos arriscar, era claro que não pertencíamos àquele lugar de engravatados e olhares desconfiados. Não só estávamos no lugar certo, como não havia mais ninguém e pudemos tirar quantas fotos fôssemos capazes. 

Percebi que estávamos próximos a um dos templos que eu havia ido da última vez, André nunca tinha ido a um templo até aquele momento, eu achei que era uma boa oportunidade. Caminhamos bastante, mas eu estava enganada quanto à minha expectativa, às vezes eu esqueço que temos diferentes interesses.

No caminho eu disse ao André sobre a minha teoria de se perder e ele topou se perder comigo, começamos a subir uma montanha, o que parecia ser o caminho para o Vitória Peak, mais um ponto turístico na minha lista. Eu estava ansiosa pela oportunidade de subir a montanha à pé, nós subimos por mais ou menos 40 minutos, tinha uma pequena praça, onde paramos para descansar e decidir se continuaríamos a subir ou se era hora de voltar.

Decidimos voltar, ou melhor o estômago do André decidiu que devíamos voltar para o hotel. Táxis em Hong Kong são absurdamente caros, arriscamos e optamos pela adrenalina de andar até a estação de metrô, esperar até chegar à estação de destino e andar até o hotel. Chegamos em tempo.

O ar-condicionado do quarto nos proporcionando o clima agradável que nós não encontrávamos nas ruas, wi-fi disponível e funcionando, livre acesso a certos sites que na China não são tão acessíveis, foram mais do que suficiente para que o André se sentisse confortável naquele cubículo ao invés de explorando a cidade, mais um vez a diferença em como eu enxergava a oportunidade de viajar transparecia. Concordamos em descansar durante a tarde, mas sair de novo à noite.

Eu não havia desistido do Vitória Peak, eu sabia que era possível ir de ônibus, mas para a minha frustração, meia hora depois de esperar a única coisa que apareceu, foram mais pessoas no ponto de ônibus. Estava ficando tarde, decidi que iria pegar um táxi, mas cadê os táxis quando se precisa de um? Devemos ter perdido pelo menos mais trinta ou quarenta minutos, fora o quanto andamos, mas finalmente encontramos um.

Na subida disse ao André para evitar de olhar para fora do carro, na tentativa de evitar de se decepcionar ao chegar no topo (algo que eu aprendi quando fui visitar o Palácio de Versalhes na França), estávamos indo muito bem até os cinco minutos finais, por um descuido nós dois olhamos e nos deparamos com a iluminada Hong Kong. 

Chegamos ao pico. O táxi nos deixou na entrada de um shopping. Não era bem o que eu esperava, mas eu não me deixaria abalar tão rápido, entramos no shopping tentando encontrar uma forma de sair. O shopping tinha pouquíssimas lojas, não sei ao certo se era novo ou se nem mesmo os comerciantes consideravam um lugar interessante para ter uma loja.

Eu queria assistir ao show de luzes do Vitória Peak, mas é claro eu não era a única a ter essa ideia. A área de observação da cidade estava bem cheia, era preciso esperar para tirar fotos e dos pontos onde era possível ter a melhor visão da cidade eu e o André nem consideramos tentar. Encontramos um bom lugar para assistir ao show de luzes e aproveitamos o show.

Vista de Hong Kong do Vitória Peak
Vista de Hong Kong do Vitória Peak

Era hora de voltar, quem já foi ao Vitória Peak sabe que tem um Tram, tipo um bonde, a fila para descer estava enorme. O André ficou na fila um pouco, eu fui ao Burger King que ficava no shopping e jantamos na fila mesmo. Deu tempo de comer, criar expectativas, reclamar de esperar, planejar o dia seguinte, cansar de esperar, até que finalmente chegou a nossa vez. A descida não foi muito marcante, talvez porque a gente esperou demais ou o cansaso falou mais alto. Voltamos ao hotel, afinal no dia seguinte seria o grande dia, o mais esperado da viagem.

Acordamos cedo, café da manhã e metrô, dessa vez iríamos nos afastar do centro da cidade. Eu acredito que a Disneyland é o sonho de muita criança,  pelo menos era o dessa crianças que vos escreve.

Dentro do metrô para a Disneyland

O sistema de metrôs de Hong Kong é de dar inveja são 218km de extensão e 155 estações. Existe uma linha específica para o parque da Disney, o carro é decorado com personagens diferentes da Disney e você se sente lá, mesmo antes mesmo de chegar. Estávamos adiantados, o que nos deu tempo o suficiente para comprar os ingressos e sem pressa observar todos os detalhes que o parque oferece antes mesmo do portão principal. 

Entrada da Disney em Hong Kong
Treinamento Jedi

Mapa em mãos, Homem de Ferro, Star Wars, Treinamento Jedi, tudo parecia perfeito. Meu telefone toca e as notícias não eram boas, o documento não havia sido aceito e eu precisava ir ao centro antes de submeter novamente para aprovação, portanto eu teria que extender a minha estada em Hong Kong por mais duas noites pelo menos.

Sabe quando você se vê no lugar que sempre quis estar e não consegue mais aproveitar? Essa era a sensação que eu tinha enquanto assistia o André fazendo o treinamento jedi. Para minha sorte, enquanto o André não estava por perto eu tive tempo suficiente de colocar a minha cabeça no lugar, tirar fotos e reagir de maneira racional. 

Expliquei para o André que teríamos que deixar a Disney naquele momento, acredito que ninguém quer receber uma notícia dessas, mas a reação dele me surpeendeu. Antes de sairmos do parque expliquei a situação para um dos funcionários, eles carimbaram o pulso do André e o meu com um carimbo que só é possível ver à luz negra e disseram que nós poderíamos voltar.

Star Wars – R2D2

Fomos ao centro, resolvemos o que precisava, remarquei o voo e voltamos para a Disney. Eu não tenho certeza quanto tempo demorou, ao voltarmos ainda demorou um pouco para a gente conseguir aproveitar novamente, deixar as preocupações pela mudança de planos para depois, mas conseguimos ir a todas as atrações que queríamos e estavam abertas e tirar foto com alguns personagens e nos divertirmos. Chegamos no hotel exaustos, como tinha que ser. 

Disneyland Hong Kong

No dia seguinte não exploramos a cidade, ou melhor exploramos o comércio. Fizemos nossas malas e nos mudamos para outro hotel, havia uma convenção que aconteceria naquele final de semana e não era possível encontrar nenhum quarto disponível nos hotéis próximo de onde estávamos. 

Hotel novo, compras feitas, eu precisava estudar e com o orçamento mais do que estourado acabamos passando mais tempo no hotel e procurando por opções diferentes de passeio. Antes de irmos a Hong Kong o André e eu pesquisamos juntos se tinha algo que nós gostariamos de fazer. Vimos que todos os dias, havia uma cerimônia que se resumia a um disparo de canhão, eu não havia incluído tal atração nos nossos planos, mas agora era possível.

O dia seguinte foi uma série de tentativas mal sucedidas de encontrar o que fazer. Fomos atrás do canhão, mas nos perdemos e não ouvimos nem o barulho, fomos atrás de VR or scape room para fazer, mas não encontramos nada que fosse em inglês. Para não dizer que não encontramos nada, havia um restaurante simples, mas gostoso, próximo ao hotel. É preciso comemorar pequenas vitórias.

O fato de passar mais tempo em Hong Kong, ter que concluir os trabalhos para o curso que eu estava fazendo e tinha planejado fazer em casa me incomodava, mas ver que o André se sentia bastante confortável no hotel, assistindo filmes ou desenhos no celular era um alívio. 

Sino antes do disparo

No dia seguinte fomos novamente atrás do canhão, dessa vez por outro caminho. Avistamos o tão precioso e antiquado objeto, a princípio eu achei que estávamos no lugar errado, haviam poucas pessoas e não estava tão confiante de que havia a tal cerimônia ou se havia algum outro canhão na região. Logo, mais pessoas começaram a chegar e um pouco antes do horário previsto para o início da cerimônia foi possível ver duas pessoas fardadas entrando na área exclusiva para funcionários.

A cerimônia não demorou mais do que 10 minutos, para quem nunca viu um canhão ser disparado é interessante, mas olhar para o lado e ver o filho deslumbrado com o que ele assistia não tem preço.

Cerimônia de disparo de canhão

Era nosso último dia na cidade, nos perdemos um pouco mais e acabamos nos deparando com um restaurante de tema esportivo. Como eu já não sabia quando voltaríamos, depois de tudo o que passamos, era hora de nos presentear.

Restaurante tema esportivo
Restaurante tema esportivo
Restaurante tema esportivo

No dia seguinte era hora de voltar, documento pronto e em mãos, trem, fronteira, Shenzhen, metrô, aeroporto, avião e finalmente casa.

Hong Kong é um lugar especial, apesar de extremamente caro. É lógico que é possível encontrar opção acessíveis e até mesmo gratuitas, mas alimentação e hospedagem ainda são caros se comparados à China. Eu acredito que Hong Kong é um bom começo para qualquer estrangeiro vindo de um país europeu ou americano antes de entrar na China, porque ainda nos oferece o conforto de poder falar inglês em muitos lugares e tem um pouco da cultura que estamos acostumados ou vimos nos filmes. 

Eu tive duas experiências completamente diferentes e tenho certeza que se fosse uma terceira vez faria o possível para visitar lugares diferentes, mas de uma coisa eu tenho certeza: é muito melhor quando se está bem acompanhada.

Published by Tassia Kespers

Escritora, professora, tradutora, revisora, mãe e exploradora nas horas vagas.

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